(Black Swan, 2011). Apesar de ser uma dançarina exemplar, de gestos perfeitos e precisos, Nina só é capaz de interpretar o cisne branco. Isto porque lhe falta a intensidade do animal negro: malícia, sexualidade, menos perfeição e mais transcendência (tudo o que o filme não tem). Assim, Black Swan é basicamente um filme sobre a libertação de uma jovem que para atuar bem em seu papel dúbio, precisa recorrer a experiências subversivas na sua pacata vida real. No auge do clichê, Darren dá a fórmula: sexo (homo e heterossexual), drogas, alucinações, mãe repressora, professor autoritário. Uma panaceia geral.
Com tantos desafios a superar dentro e fora do palco, a paranoia também surge em relação a uma outra bailarina, que contrastantemente cai muito bem no papel de cisne negro (e por todas suas características, fica implícito que o cisne branco também não combina com ela). Quando cai nessa de precisar se tornar um cisne negro na "essência", o filme parece propor uma briga tosca entre o "eu" e o "eu mesma" da personagem, que, em suma, precisa superar isso acima de tudo. Cria um dilema conhecido tal como nós-somos-nossos-próprios-inimigos etc. Daí, apelar para a automutilação é um pulo.
Mas, tecnicamente bom, Black Swan só não é um fiasco por suas cenas de dança. Mais do que um balé filmado, as cenas em cima do palco fazem jus ao que poderíamos chamar, apenas por uns breves momentos, de "cinema sobre balé". Cortes dão fluidez à cena do espetáculo. Nestes instantes, o espectador do cinema tem uma posição privilegiada em relação ao espectador do balé.
E embora isso pareça a originalidade do longa de Aronofsky, a partir dos primeiros minutos vêm à cabeça toda a história de Sapatinhos Vermelhos (1948, Michael Powell e Emeric Pressburger), baseado no conto de Hans Christian Andersen. Esse filme, com um final realmente estarrecedor, também mescla as histórias da bailarina ao da personagem do espetáculo. Com inspirações claras, logo Black Swan dá as pistas de um final puramente previsível. De qualquer forma, para quem não assistiu ao filme de 48, dá para se surpreender com o final cheio de artifícios.
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