30 abril 2009


(Stellet Licht, México, Holanda França, Alemanha, 2007). Pela simplicidade do próprio filme, que demonstra pouca ambição do diretor Carlos Reygadas para além da contratação de não-atores, não consigo me estender em comentários que poderiam ultrapassar a aura de Luz Silenciosa, filme contemplativo com um bucolismo encarnado de olhos reclinados.

19 abril 2009


(Man on Wire, Inglaterra, EUA, 2008). Do ponto de vista de alguém com o pé no chão, Phillipe Petit, O Equilibrista, andava sobre o ar, na mesma altura dos telhados e pistas de pouso dos prédios, pela ilusória transparência da corda que testemunhava seus calmos pés. O documentário traz imagens gravadas durante momentos como esse que faziam espectadores ao acaso bambearem entre perplexidade e contemplação. É uma bela vista — e acho que o filme não pretende passar disso — a coragem enaltecida como tal, que tange a liberdade e ao mesmo tempo a prisão do vou-e-não-volto-mais-atrás. Do diretor James Marsh, O Equilibrista traz também cenas ilustrativas (encenações em terra firme, é claro) dos depoimentos dos cúmplices e ajudantes do aventureiro mor. Cenas que dão um que de filme francês.

O filme vale também como documento das imagens do World Trade Center, ainda em construção. As torres gêmeas, enfatizadas na sinopse e estendidas em cenas de momentos tensos por entre a centena de andares, acabam se tornando protagonistas ao longo do documentário, tamanha sua simbologia dentro do sonho do equilibrista. Se ele se considerava um peculiar passageiro pelas torres, hoje as vê com o pano de fundo ainda maior da efemeridade. Tempo e História.

09 abril 2009


(Che - El Argentino, França, Espanha, EUA, 2008). Se antes achava que o subtítulo desta primeira parte fosse incoerente com a história retratada no período de luta armada em Cuba, agora penso que o uso faz-se totalmente coeso com o que assistimos na tela. Espera-se no mínimo uma retratação de momentos durante ou imediatamente pós diários de motocicleta, que se encarregaria de mostrar as motivações do revolucionário, e no entanto, encontramos Che já pronto, armado, para a luta contra as mazelas cubanas. Começa-se desde então a ressaltar sua personalidade coletiva, que excede os limites territoriais, trazendo o título para a ideia: o argentino que está lutando por Cuba. Uma singela forma de mostrar quem foi Che, de um jeito que foge da exaltação comumente vista em torno da figura de Guevara.

E é aí que Steven Soderbergh se destaca. A impressão que tive é de que até mesmo um leigo em fatos históricos relativos ao período assistisse ao filme, ele não sairia com uma imagem romantizada e heróica do carinha da boina, porque ele não vai encontrar acentuado destaque para o lado afetuoso e generoso de Guevara, com suas famosas frases e demonstrações de amor pelo próximo – não é a toa que a imagem de seu corpo morto foi comparada com a de Jesus Cristo.

O filme vai além, principalmente quando se utiliza do tom realista, quase documental, que permite um escape de modelos hollywoodianos tão banalizados em cenas de ação e aventura. Temos ainda os outros personagens representados com importância se não igual ao menos próxima de Che, que claramente está subordinado ao comandante Fidel Castro. A atenção aos detalhes históricos faz-se presente, e tudo isso acaba fazendo de Che – O Argentino uma forma de humanizar a figura de Guevara. Não posso falar que ‘desromantiza’, mas o contrário também não faz. E é por isso que humaniza.

07 abril 2009


(Happy-go-lucky, Reino Unido, 2008). Faltou sutileza ao filme de Mike Leigh, também escrito por ele. A tentativa de Simplesmente Feliz em transmitir a lição de vida do tipo 'sorria, a vida é bela' torna-se um exagero pela interpretação de Sally Hawkins. Damos créditos às piadas, à excentricidade, ao cômico e até ao grotesco figurino, mas desconfiamos da necessidade de se fazer uma personagem com trejeitos de retardamento mental. Há como desfrutar de uma meninice aos trinta sem marcar a diferença, dizer a que veio com apenas nuances que os diálogos fazem em alguns momentos. O problema não é a ausência de algo, mas o apelo ao over. Cativante? Sim. Mas até que ponto a identificação com a personagem não se dá por uma certa pena do espectador por seu jeito desastrosamente diferente?