18 maio 2009

(Üç Maymun, Turquia, 2008). Com este longa-metragem premiado ano passado em Cannes pela Melhor Direção, Nuri Bilge Ceylan está sendo bastante comparado com o diretor de Luz Silenciosa (2008), Carlos Reygadas, por motivos cada vez mais presentes em filmes de autor. Do tipo de filme que mantém o espectador distante, como observador que interage apenas por compartilhar da tensão marcada pelo silêncio e lentidão das cenas, 3 Macacos tem aquela direção meticulosa que trabalha diálogos e imagens para contar a história numa economia simples de detalhes sobre os acontecimentos. Um olho roxo do filho, um toque de celular da mãe ou o rosto do pai por detrás da grade explica tudo.

Essas opções não alavancam o filme como o inovador do meio cinematográfico contemporâneo, afinal, o modo como a câmera presencia as ações neste aparece em trabalhos de outros artistas temerosos pela transformação de suas histórias em dramas exagerados. É por isso também que ultimamente temos constatado a ausência parcial ou total de músicas nas trilhas sonoras. Mas, sem dúvida, é anticonvencional diante de aspectos pouco explorados pelas produções que optam pelo comum sem arriscar.

Em 3 Macacos, até as cores correspondem ao silêncio que impera, vez ou outra interrompido por uma música toque de celular. É brilhante a forma como a cena se apropria da música, provavelmente turca: uma diegese apaixonante, pelo menos para mim.

Ouvimos os pensamentos dos personagens por trovões, sons de trem, vidraças, chuva. E entramos neles por recursos imagéticos de simples aparições de um personagem à primeira vista estranho, pertencente à trama na mente dos protagonistas. Isso atribui a cenas do tipo um ar fantasmagórico de puro charme e inteligência, ao se evitar efeitos especiais gritantes. Apenas uma lente diferente ou uma não-reação do ator, respondem a quem assiste a 'presença' do menino morto, visitado no cemitério.

E tem aqueles recursos: a paisagem é semântica, intrínseca ao pensamentos e às ideias. A culpa que pai, mãe e filho carregam é diferente e ao mesmo tempo se assemelham, aproximando-se da metáfora dos três macacos, na qual cada um escolhe não ouvir, não ver ou não falar após o atropelamento que desencadeia toda a história. E não estranhe se ouvir respirações fortes e bufadas durante a sessão. Entender a monotonia faz parte.

1 Expressões:

Maurício Meireles disse...

A paisagem é semântica. Você tem talento mesmo pra isso. Rapaputaquepariu, véi. rs