29 maio 2009


(Gran Torino, EUA, 2008). Flui entre a evolução constante de humor-ironia-tensão, saltando aos olhos reflexões sobre a América madrasta má de etnias e grupos à margem social. Simplicidade para reforçar tradicionalismos, multiplicidade para tensionar estereótipos. Clint Eastwood vem com Gran Torino para nos lembrar o que é o velho e bom cinema, com roteiro e direção de qualidade, e, ainda, com interpretação enérgica. Sinto-me livre para dizer que Gran faz o meu tipo favorito de 'filme de ação' (referente ao espectador ativo) quem assiste passivamente sai perdendo.

28 maio 2009

child acting

Thiago da Silva
Mutum, Sandra Kogut

(Mutum, Brasil, França, 2007)


Nikbakht Noruz
E Buda Desabou de Vergonha, Hana Malkmalbaf
(Buda as sharm foru rikht, Irã, 2007)



Pernilla Allwin e Bertil Guve
Fanny e Alexander, Ingmar Bergman
(
Fanny och Alexander, Alemanha, França, Suécia,1982)


Enzo Staiola
Ladrões de Bicicleta, Vittorio de Sica

(Ladri di Biciclette, Itália, 1948)


Subir Bannerjee
Canção da Estrada, Satyajit Ray

(Pather Panchali, Índia, 1955)



Omero Antonutti
Pai Patrão, Vittorio e Paolo Taviani
(Padre Padrone, Itália, 1977)


Benóit Ferreux
O Sopro no Coração, Louis Malle
(
Le Souffle Au Coeur, Alemanha, França, Itália, 1971)


Leora Barbara
Stella, Sylvie Verheyde
(Stella, França, 2008)


Jodie Foster
Alice Não Mora Mais Aqui, Martin Scorsese
(Alice doesn't live here anymore, EUA, 1974)

(em constante construção)

23 maio 2009


(Dung Che Sai Duk Redux, Hong Kong, China, 2008). Mesmo diretor do talvez mais pop de sua filmografia, Um Beijo Roubado (2007), e do queridinho de muitos cinéfilos Amor à Flor da Pele (2000), Wong Kar Wai em Cinzas do Passado Redux enche nossos olhos com um cinema quase sensório. A fotografia é rara. Os efeitos imagéticos estão em perfeito equilíbrio. Seus planos valorizam o diagonal, não à toa mediante as declinações dos personagens. As cenas de ação têm um romantismo que só vendo, mesmo. Não é um filme de espadas e arranhões. Muito menos de romances proibidos. Kar Wai soube aqui se apropriar do que a arte cinematográfica tem a lhe oferecer. Esqueça a sinopse. Falar desse jeito faz eu me sentir uma verdadeira esteta, mas vez ou outra é necessário fazer um mãos-ao-alto pela estética: deixando a arte me levar.

22 maio 2009


(Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, Brasil, 2008). Mó no pa trô pi. Cantava Wilson Simonal pelos palcos brasileiros numa empolgação contagiante, hoje infelizmente restrita à nossa geração por documentários como este. Os diretores Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal conhecem a importância de deixar as gravações de arquivo passar integralmente. Nenhum espectador se sentiria satisfeito se a apresentação com a cantora Sara Vaughan,por exemplo, fosse interrompida num corte para dar espaço a depoimentos. O que não significa que eles não apareçam naqueles velhos moldes que já conhecemos.

É um documentário necessário. Assistir Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei nos faz ter ideia do que representava o cantor negro e enriquecido pela música no cenário dos festivais e dos programas de auditório dos anos 50. E num estilo que dialoga com modelos de reportagem investigativa, o filme apresenta o episódio que afastou Wilson das telas com a consequente repulsa da mídia e do público.

De Chico Anysio a Pelé, as aspas aparecem apaixonadas em meio àquele mundo das imagens de arquivo. Wilson, cantor de composições de Carlos Imperial, principalmente, esbanjava sucesso provindo de carisma e do modo como interagia com a plateia. Bom filme pelo resgate de sua história. Nós cá na poltrona não resistimos a balançar os pés.

19 maio 2009


(Vals Im Bashir, Israel, Alemanha, França, EUA, Finlândia, Suíça, Bélgica, Austrália, 2008). Quando temos à frente cerca de 90 minutos de um filme em animação para falar de guerra (e não só), bate um certo alívio por não estarmos assistindo cenas reais dos conflitos em solo libanês. Somadas a isso, temos as memórias do personagem principal nos captando para um inconsciente virtual. Fuga do real. O sentido do filme é intensificado pela animação. Estamos envolvidos em uma Valsa com Bashir, em reflexões acompanhadas de empolgante trilha sonora em um 2-D imperfeito para as ocasiões certas. E no último minuto de filme, com o corte suave, damos um salto contrastante de volta à realidade da nossa dimensão (midiática). Ótimas escolhas de Ari Folman, porque eu não queria romantizar o terrível, tampouco me ausentar da consciência de que tudo aquilo realmente existiu/existe.

18 maio 2009

(Üç Maymun, Turquia, 2008). Com este longa-metragem premiado ano passado em Cannes pela Melhor Direção, Nuri Bilge Ceylan está sendo bastante comparado com o diretor de Luz Silenciosa (2008), Carlos Reygadas, por motivos cada vez mais presentes em filmes de autor. Do tipo de filme que mantém o espectador distante, como observador que interage apenas por compartilhar da tensão marcada pelo silêncio e lentidão das cenas, 3 Macacos tem aquela direção meticulosa que trabalha diálogos e imagens para contar a história numa economia simples de detalhes sobre os acontecimentos. Um olho roxo do filho, um toque de celular da mãe ou o rosto do pai por detrás da grade explica tudo.

Essas opções não alavancam o filme como o inovador do meio cinematográfico contemporâneo, afinal, o modo como a câmera presencia as ações neste aparece em trabalhos de outros artistas temerosos pela transformação de suas histórias em dramas exagerados. É por isso também que ultimamente temos constatado a ausência parcial ou total de músicas nas trilhas sonoras. Mas, sem dúvida, é anticonvencional diante de aspectos pouco explorados pelas produções que optam pelo comum sem arriscar.

Em 3 Macacos, até as cores correspondem ao silêncio que impera, vez ou outra interrompido por uma música toque de celular. É brilhante a forma como a cena se apropria da música, provavelmente turca: uma diegese apaixonante, pelo menos para mim.

Ouvimos os pensamentos dos personagens por trovões, sons de trem, vidraças, chuva. E entramos neles por recursos imagéticos de simples aparições de um personagem à primeira vista estranho, pertencente à trama na mente dos protagonistas. Isso atribui a cenas do tipo um ar fantasmagórico de puro charme e inteligência, ao se evitar efeitos especiais gritantes. Apenas uma lente diferente ou uma não-reação do ator, respondem a quem assiste a 'presença' do menino morto, visitado no cemitério.

E tem aqueles recursos: a paisagem é semântica, intrínseca ao pensamentos e às ideias. A culpa que pai, mãe e filho carregam é diferente e ao mesmo tempo se assemelham, aproximando-se da metáfora dos três macacos, na qual cada um escolhe não ouvir, não ver ou não falar após o atropelamento que desencadeia toda a história. E não estranhe se ouvir respirações fortes e bufadas durante a sessão. Entender a monotonia faz parte.

03 maio 2009


(Pas sur la Bouche, 2003, França). Divertido Alain Resnais na direção de Beijo na Boca, Não! Versatilidade etc. Algumas belas minúcias de uma comicidade que vai do fino ao escrachado caricatural. Interessante como o musical evolui de tal forma a sugerir Resnais desprendendo-se de si mesmo.

02 maio 2009


(La Belle Persone, França, 2008). Com bom ritmo de silêncio nos diálogos, A Bela Junie conta a volatibilidade dos casos amorosos que posso até arriscar a dizer que sensualmente. Modo permitido pela sutil direção de Cristopher Honoré. Anne Seydoux interpreta Junie também com tamanha sutileza que as outras histórias paralelas à principal não são ofuscadas, complementando-se num jogo intrínseco de pequenas histórias, tais como paisagens a fim de contextualizar a trama. Com elementos que já vimos nos anteriores Em Paris e Canções de Amor, este não veio para marcar inovações, mas para acrescentar um Honoré válido pelas investidas em campo sonoro e imagético, sem muito incômodo.